segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Abro o livro, acendo a lareira, vejo o fogo consumir lentamente o pouco que resta de mim… Hoje é domingo: Não me vesti convenientemente, não penteei o cabelo, não atendi o telefone, não olhei pela janela, deixei as luzes todas acesas, não saí de casa…
Estou especialmente nostálgica e melancolicamente mergulhada neste romance. Fixo neste livro o romance violento e o final trágico que não vivi (do amor que não tive) e sim: Quando o amor não subsiste, não há nada que nos faça ficar, e a comiseração é demasiado cruel para não dizer adeus… «Cair em ti, cada vez mais longe da mísera ficção de mim». Sem ti sou só um corpo, e a minha alma tilinta neste desconforto misericordioso que é o ódio contrastando a afeição. Esta malevolência persiste, pontapeia-me o coração e esmaga-me a alma para que eu não tenha o dissabor de a encarar, trocista.
Hoje contei as ondas do nosso mar, olhei o céu que ficou nas minhas (talvez nossas) recordações… talvez tenham significado pouco da tua vida desenfreada e egoísta. Dás tão pouco de ti… Talvez tenhas caído na minha vida e estejas apenas de passagem, talvez esteja condenada a amar-te com todo o corpo durante muito tempo, talvez não…
Dei-me à sede do teu afecto incapacitado quase sem me questionar, porque todas as questões vieram depois, muito depois. «A melhor coisa que um dia aprenderás é a ser amado e retribuído», aprendi apenas metade dessa serenidade.
Devias ver-me hoje: com a pele luzidia, os olhos inchados do choro, os meus abomináveis óculos que desprezo em dias normais, o cabelo mal preso, desgrenhado, caído sobre a testa. Estou irreconhecível, sou só um corpo de alma tilintante. O livro caído no colo, a poção miraculosa do definhamento sobre a mesinha…
Hoje percebi – mais que nos outros dias – a falta que me fazes. Acordei na apatia dos amores consumidos pela falta que me faz a tua estupidez e indolência inatas, o teu sorriso fedelho que me fazia acordar, enfrentar o outro dia, todos e todos os dias…

«mister inaccessible, will this ever change? i'm still a picture in a frame...»

1 comentário:

Anónimo disse...

bem, tenho de reconhecer que finalmente tens um texto poético. Se calhar devias deixar a poesia, e estender-te um pouco assim na prosa até calibrares mais a mão. Este sim, está muito bom , embora me pareça que exagere na auto-comiseração falta um pouco de ironia. Em minha opinião (que vale o que vale) nunca nos devemos levar demasiado a sério. Ex. Prof.