terça-feira, 6 de abril de 2010

Eu vi passar o tempo

como um cavalo veloz no seu galope intenso,

sincopado

e não o quis parar,

não lhe liguei.

Há de se dar ao cansaço de todas as voltas,

os ponteiros volvem,

talvez parem,

mas eu não.

Não com a mesma forma de olhar

nem ritmo…

E enquanto o sol não nasce,

trinco esta maçã levemente envenenada

que me vai deixando dormente neste lugar onde nem sei se me sei

- colina ao luar de outra noite qualquer -

onde me é confortável andar perdida.

Imagino um caminho de volta

mesmo sem ponto de partida,

mas vejo este lado

e é bom:

os acordes são bucólicos,

choram violinos por entre as palavras

que eu deixei de tocar,

passei ao lado,

ao outro.

Entrando no balanço do tempo

- esse que urge

malfadado, dividido -

sentei-me na pedra da colina

a baloiçar no pêndulo do relógio de corda inventado

e não vi,

não tenho tempo:

tenho a chave para o fim do mundo.

sábado, 2 de janeiro de 2010

Há coisas a mais neste quadro.

Muita luz, muito ruído, muito medo

e é tudo o que precisamos para não sermos…

Nós, de tão frágeis no nosso espaço de luz esbatida,

tão desconexos,

tão apartados e tão próximos de coisa nenhuma,

ternos,

e eu não a encontro.

Faltam palavras

que nos deixam,

porque tudo o que está é primordial,

estarrecidos.

Sento-me aqui, passo as mãos pelo cabelo e encosto a cabeça para trás,

este compasso de espera é o tempo de só mais um cigarro

para partir a pé por esta linha de ferro que me separa do mundo

e esperar que passe.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Perdemo-nos
nestas palavras e noites
de sorrisos discretos e fumo.
Tudo está tão inacabado,
tão indistinto, lá fora,
e em cada um de nós.
Não parti,
até porque não quero mudar o mundo…
Sei que vou ficar por aqui algum tempo
e agrada-me.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Neste caminho solitário

de linhas que se cruzam,

de todas estas vidas que passam por mim,

vejo o meu reflexo no vidro

e já não sei se me conheço.

É só mais uma viagem de comboio,

de regresso a casa…

Sei para onde vou

mas onde quero ir não sei

e o meu destino é tão incerto.

Sei que quero partilhar estas cores e formas,

os anseios e as gargalhadas

nas noites em que as palavras se fundem no fumo do cigarro,

e o batimento do coração é mais acelerado.

Não há pressa, nem desilusão

basta-me saber que amanhã é mais um dia

(...)

que ecoa em mim

em cada respirar…

sábado, 31 de janeiro de 2009

Perdi o norte
sem mais nem menos.
Sem comiseração nem choro
perdi-me em mim e no resto
nos restos de mim que nem sei...
e tal como a chuva cai lá fora
todo o eu vai caindo
e agora é apenas uma gota no meio de tantas outras no parapeito da janela.
O mundo é uma sala cheia de gente
onde toda a gente grita e ninguém se ouve
e ninguém nota quando alguém cai.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

O mundo mudou, obra do Homem. Homem esse que se adapta a (quase) tudo. E bem que olhando em volta, e esquecendo por uns segundos toda a (enorme) parte má…

As belas e coloridas folhas de Outono, amarelas, vermelhas, castanhas, que rodopiam com o vento típico, mas que chocam contra a neve branca e nostálgica de Inverno, juntamente com esse frio tão seu, que pede uma noite natalícia tão bem acompanhada de cheiros e petiscos, tão aquecida por uma lareira e por uma família, ou aquecida por outro tipo de companhia, sempre com o fogo (também) da lareira. É unir a beleza de duas estações numa só, que exalta ao rubro memórias do passado, nos dá a sensação (ou fervoroso desejo) de sermos pequenos, inocentes, despreocupados (!) outra vez, quando tudo era simples e lindo…

domingo, 2 de novembro de 2008

Sob o céu azul

Sob o céu azul
De almofadas brancas
E ilhas cinzentas
Sob o alegre sol
O seu calor
A sua imensa luz
Lá estavam eles
Lá estava ele
Lá estava ela
Os dois unidos
Indiferentes ao céu azul
De almofadas brancas
E ilhas cinzentas
Ao alegre sol
Ao seu calor
E à sua imensa luz
Eram o céu um do outro
Iluminavam-se e aqueciam-se
Eles decidiam o seu dia e noite
A eles cabia o seu mundo
Era olhá-los enquanto se olhavam
Apreciá-los enquanto se escutavam
Entender como falavam de boca fechada
Como se tentavam assimilar quando a abriam
Como tentavam ser um só quando se amavam
Sob aquele céu azul
Das almofadas brancas
E ilhas cinzentas
Daquele alegre sol
Do seu calor
E da sua imensa luz
Que houvera de durar
Até ao fim dos tempos

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Deixa-te ficar
Distrai-te
Dá por ti a pensar
És tu, só tu
E ninguém mais.

Não vês
Não ouves
Abres os olhos
Procuras em redor
Vês árvores
Vês rochas
E o horizonte
Metros e metros te separam do chão
Subiste tanto, mas tanto
Até ao topo
Nada mais acima existe.

Chegaste até ai sozinho
Tão sozinho como estás agora
Subir foi difícil, sim
Descer é tristemente impossível.

Podes atirar-te, sim
Mas quando chegares lá abaixo
Onde estão os outros
Aqueles…
Passarás por eles sem que te vejam.

Esqueceste e esquecido foste
Não te importaste e agora só
Agora só te vês e vais ficar
Atingiste o tão desejado topo
Parabéns (que pena).

Só estás
Só agora percebeste
Quão lindo é o vale
Quão verde
Quão quente
Quão acolhedor
Quão cheio de gente
Só agora percebeste
Quão feio é o topo
Quão cinzento
Quão frio
Quão desconfortável
Quão isolado

Olha aos outros mais que a ti mesmo.
No fim, em vez de os olhares solitariamente de cima,
Vê-los-ás à altura dos teus olhos
Serás da altura deles, sendo maior que eles
Ao invés de estares acima deles, sendo mais pequeno…

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

(s/ título)



A alma vai morrendo

e cada segundo leva um pouco de nós.

Pisamos o pó dos nossos dias passados

em gritos, choros e histerias

e perguntamos se valeu a pena.


E não.

Não me sinto inocente.

Na absurda dor que nos leva a tal

fica a nostalgia dos outros dias.

Não importa a cor ou sol

importamos nós... ou já não tanto.


Fobia estapafúrdia da perda

ou vontade dela.

Perdemo-nos um pouco,

talvez afastemos o real

pela nossa necessidade de batalhas inúteis

e de setas perdidas no peito.



segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Vago.

É um lugar vago, o meu.

Não sei se pior que a solidão,

só sei que não estou lá.


E se eu cair em mim,

chorar,

e agarrar-me a quê?


Quanto mais alma, mais nudez,

mais corpo sem voz, sem rosto e perda:

sou nada

por não saber ser nada.

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Apatia

marioneta sem ninguém que puxe os fios,
alma acorrentada sem bruxedo que a liberte,
apenas parada, quieta, silenciosa, à espera,
à espera que algo mude, que a faça soltar-se,
que a faça mudar, mexer, viver!... outra vez…
e o tempo que não passa
para que com ele traga mudança,
nova vontade,
nova força,
novo ânimo,
e aqui desespera por quem não vem,
pelo que não chega,
pelo que não voltará nunca… e tenta (oh se tenta),
mas é incapaz de se de se erguer,
incapaz de se deslocar,
incapaz de se arrastar…
e aqui jaz

sábado, 8 de dezembro de 2007

Quero uma lareira quente e crepitante, um tapete fofo e um dia chuvoso.
Quero uma companhia que me aqueça mais que a lareira.
Quero o passado como foi ou como poderia ter sido, não um presente responsável e pesado.
Por que é que o tempo não pára? Não pode ser.
Antes, por que é que não o mantemos parado cá dentro? Isso podia ser…

Quero o passado fácil que julguei difícil e não o presente complicado que amanhã acharei simples.
(mas então....)

domingo, 2 de dezembro de 2007

São elementos, as imagens, as músicas, os cheiros. Revivemos, revemos, relembramos, “ressentimos”. São portas enormes e (por vezes demasiado) fáceis de abrir. Recordamos experiências alegres e convívios excelentes com os nossos amigos enquanto com os nossos amigos. Recordamos momentos nossos, momentos sós, momentos em que pensámos e sofremos, só nós, por nós e por outros, enquanto com nós mesmos. Gostamos de estar assim, nesta melancolia, nesta nostalgia, nesta solidão em nós, sozinhos ou rodeados de gente, este reviver que nos faz sentir vivos, sentir que já vivemos antes e não só agora, o reviver daquilo que de mais forte se passou, épocas idas, tempos passados, momentos, minutos, segundos há muito desvanecidos, mas que de quando em vez cá voltam para nos assombrar, mas gostamos de estar assim. Porque não é quando um Homem quer, é quando a um Homem é permitido querer. Suspiros fáceis, nada mais que sussurros verdadeiros que saem disparados sem muito termos que pensar, aos outros não, estamos sós em nós, quem mais temos é o papel, se a ele quisermos falar, depois então deixar que os outros vejam, se ao que o papel lhes diz quiserem dar atenção. E assim vivemos, um dia e outro, ora bem, ora mal, quantas vezes rimos e sorrimos envoltos de gente, nunca temos problemas, ao segundo que nos vemos sós, aflui aquele liquido tão fiel a nós, por vezes mais fiel que o que queremos, e percebemos que a felicidade estava na distracção, estava no tempo em que deixamos que os outros nos desviassem da solidão em nós mesmos, por entre gritos e gargalhadas. Porventura nos nossos devaneios, nas nossas longas conversas com nós mesmos, nos nossos debates acessos e discussões repletas de sabor, lembrar-nos-emos daquela pessoa, daquele alguém que porventura existirá, quer o saibamos por certo, quer o julguemos saber, quer o desejemos, quer o ignoremos, e que porventura nos fará parar, alto! afinal sempre há felicidade mesmo quando estamos sós em nós, sem estarmos distraídos com os gracejos de todas as almas que nos rodeiam fisicamente, nem com os impulsos provocados pelas que nos rodeiam em espírito. Mas deixemos a felicidade para depois, para quando esses gracejos voltarem, e, quando nos vier a apetecer, deixaremos a solidão em nós, porque é sempre que o podemos fazer por entre esses gracejos, porque não é sempre que podemos voltar a ela quando nos afastamos deles. E assim vivemos, um dia e outro…

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Voo
na brisa quente e baça,
vapor,
até onde não me sei
e contemplo o mundo visto daqui.
Leve e cinzento,
papel-creme recortado,
neblina,
vestido leve de tule, meu.

Denso, imóvel,
este meu mundo
de lagos e pedrinhas,
magno... tão meu.

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Tenho a cara seca

Mas sinto as lágrimas

Que escorrem cá dentro.

Umas não te conhecem mais

Outras recordam-te com saudade

Algumas clamam por ti

Todas querem o mesmo:

Sair cá de dentro

E inundar esse teu ombro.

"Preciso-te"

Não é o que está escrito

É o que tu sentes

É o que eu sinto.

Enquanto os meses passam

E eu penso em ti

Também tu me anseias.

Demasiadas semanas desapareceram contigo

As primeiras com conversas ao longe

Longas últimas sem contacto.

Sei que ainda me amparas

Do mesmo modo que te dou a mão,

Mas faltas-me aqui.

Não na minha terra

Mas ao meu lado.

Aqui, aí ou acolá

Mas nos meus braços.

“Preciso-te”.

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Neste caminho onde o pó se levanta atrás de nós

e o mundo é um labirinto que nos engole sofregamente,

consigo encontrar em ti alguma paz

e os dias parecem passar em segundos de algum deleite…

Acaricio as linhas do teu queixo

enquanto penso na perfeição que dás à minha vida.

Somos só nós e o mar…

quarta-feira, 18 de julho de 2007

É uma dor que me dá,
Que me encolho no vazio da tua ausência
E me sinto apenas a mim.
É uma vontade que fica por concretizar
A cada dia que passa.

No escuro os meus lábios procuram os teus sem sucesso. Sinto-me um vagabundo abandonado entre fogos de rua: vagueio no frio da minha mente tentando encontrar-te, quando te encontro não te posso tocar; tenho o corpo a arder (talvez resultado do chá e da muita roupa) e todo ensopado num líquido salgado. Não, não são lágrimas dos meus olhos. Todos os poros do meu corpo lacrimejam pedindo a tua presença, que afastava o devaneio da mente e a roupa que me cobre e colocava este vagabundo num perfeito lar.

quarta-feira, 20 de junho de 2007


Temos tudo

mesmo sem termos nada,

amordaçamos o mundo

e resgatamos no nosso mísero sonho

a realidade utopicamente roubada…

terça-feira, 29 de maio de 2007

sexta-feira, 25 de maio de 2007

8 de Maio

Um cheiro agonizante a canela e lágrimas invadiu a casa assim como o meu olhar incrédulo e toda a comiseração… O Dia da Mãe vai sempre ficar na minha memória como o sufoco do meu pranto. Já não sou nada…

Tenho a casa inundada de nada e um carinho de espaços vazios. Uma cama desfeita com os lençóis ainda frescos daquilo que resta do muito que de mim partiu, o cheiro da baunilha nas horas incrédulas e este tempo que me recorda tanto… O sorriso dela, agora impessoal e repuxado sob o véu de saudade.

Faltou o derradeiro abraço antes da partida, ficou tanto por dizer… Ficou uma vida inteira… Ficou o cheiro dela no leito onde adormeci com as minhas lágrimas, e imaginei as mãos dela no meu cabelo, como sempre.

Vi rodar a chave, quis rasgar com os dentes toda esta realidade obtusa e gritar… Gritar pelo nome dela para ela me fazer festas na cara e me chatear com os pormenores que não percebeu nas telenovelas, para ela me dizer que estou «tão magrinha», que não gostava de me ver de cabelo solto, entre outras coisas… Dava tudo para voltar atrás, quando ainda era ela a aconchegar-me os cobertores todas as noites, me contava histórias sobre meninas que não comiam a sopa e me falava de todos os pobres que ajudou. Sinto tanto a falta dela…

domingo, 29 de abril de 2007

quarta-feira, 18 de abril de 2007

«cada vez mais amiga do mundo, cada vez menos amiga de alguém...»

quarta-feira, 21 de março de 2007

Sempre estiveste aí e eu talvez não tenha reparado, talvez tenha recebido o teu carinho com algum egoísmo e só to retribua agora que começas a fazer a mala para te ires embora sem regresso… Olhei para ti no último domingo, estavas com aquele teu sorriso triste mas maternal de sempre, acho que foi aí que percebi realmente o que se passava à minha volta e abracei-te com tanta força que as lágrimas não se aguentaram nos meus olhos… Cheiravas a hospital, a roupa lavada e a tua cara estava enrugada na magreza em que o teu corpo se encontra. Mesmo assim, os teus acanhados sorrisos inundavam o quarto, mesmo sendo escassos, brilhavam mais nos meus olhos que o sol dourado na janela do quarto… Voltei para casa no breu da noite gélida, percorri a estrada de regresso a casa bebendo o choro e adormecendo irrealmente no teu leito materno. Agora que te escrevo, tenho tantas saudades que me maces com assuntos sem sentido algum e das nossas conversas ao som de telenovelas foleiras depois das seis da tarde no cadeirão da sala… Fazes-me falta, Esmeralda… Volta depressa.

Primavera

O madrugador sol matutino
O tardio crepúsculo vespertino

O crescer do luminoso
O esconder do negro
O florescer do verde
O desabrochar em colorido
O chilrear do castanho
O brilhar do amarelo

O animar do triste
O cantar do alegre
O namorar do abandonado
O apaixonar do acompanhado

O acordar do calor
Que precede o fogo
E substitui o gelo
O entrar da Primavera
Que todo o bem faz erguer
E todo o mal esquecer

segunda-feira, 19 de março de 2007




Quis adormecer neste meu sorriso terno
e neste mundo mágico tão cheio de preto e de branco
belo como uma flor no negro betão…
Encontrei o silêncio depois das nove
não percebi a razão,
ouvi o respirar…

quinta-feira, 15 de março de 2007



Dá-me algum do teu tempo,
ouve a minha voz…
agarra a minha mão
e não partas
nunca mais…

terça-feira, 13 de março de 2007

Sede de ti

Olho pela janela,
Vislumbro o escuro nada,
Saio para a rua,
A chuva escorre-me pela face
Até me encontrar os pés nus.
Mas tenho sede de ti.
O dia vai nascendo
A pouco e pouco
Enquanto o vento cortante
Me trespassa.
Mas não traz o arrepio gélido,
O arrepio imenso,
O arrepio saboroso
De te ver.
Finalmente apareces.
Vislumbro-te ao longe,
Vejo-te ficar mais perto.
Olho através de ti,
Vendo ainda assim teu vulto.
Hoje é um dia mau,
Mas ainda assim noto
Que estás presente.
E se ainda assim não me és transparente
É porque tens um lugar só teu…
Em mim.

terça-feira, 6 de março de 2007

Amargo...

Dêem-me a paz
que o sol morra
e a ira o esmague,
arranquem-me os olhos
levem-me a dor
da minha melancolia doentia.
Deitem fora as minhas palavras
deixem neste canto o que resta de mim
e compreendam tais e infernais lágrimas
que o que mais desejo
é rasgar este ventre negro e de dolor
e ignorar palavras que me absorvem do mundo…
Chorar.
Chorar outra vez,
deixar-me aqui outra vez,
deixar-me de mim.
Simplesmente não querer
voltar
a ser
eu.

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Mãe

Trago nos pés gelados e descalços
o frio que a noite não trouxe.
Pouso na cama um corpo oco de nada,
na cabeceira um copo de chá
e inspiro o seu odor a menta, flutuante
misturado com o incenso que me envolve o leito…

Aconchego os abomináveis óculos
que me descansam por momentos a vista
e dou por mim – pitosga –
a reflectir na dureza das palavras gélidas que te disse hoje
que terão repercussões no amanhã.
Acendo ao de leve um cigarro imaginário
e sei que te magoo…

Sei que todos os dias te magoo
mais um pouco, mãe.
Todos os dias as minhas palavras traem os sonhos que tens para mim.
– dou um bafejo e continuo –
não sei guardar-te
por não te saber ver a ver-me partir…

O cigarro que criei ainda agora
arde na insensatez do cansaço da minha voz,
inibe-me dos afectos que não contenho
(que te dou inutilmente)
e torna-me também inútil como um trapo.
Sinto-me velha e frágil
como tu, mãe…
E este cigarro que eu criei
ardeu sozinho no cinzeiro da minha alma
onde as cinzas de mim esvoaçam na brisa…

Dá-me a mão como dantes
salta para o meu mundo
negro e de sangue
onde há bruxas a flores
lábios e mar…
Vem ver como é bom
ouvir a chuva
e não querer mais nada
que não sejam os passos do silêncio.
Fica deste lado
não partas outra vez
deixa que as minhas asas se partam,
renasçam
e fica deste lado.
Ajuda-me a pintar este quadro,
infantil e denso como este poema.
Tira a rima as quadras,
a chuva ao arco-íris,
as rosas brancas do meu quadro…
mas vem mostrar-me como é bom
todo este cheiro do mar…

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2007

Apago a luz.
Olho para as fotografias espalhadas daquilo que me resta de ti
e aconchego-me no calor frágil do meu leito
onde o frio de ti hiberna…
Quero rasgar com os dentes estas miseráveis ilustrações de nós
e não consigo.
Quero guardar no regaço estas lágrimas que ninguém viu
para um dia as carpir sozinha
como na derradeira…

Dissolvo no mar
(não sei se deva ainda dizer “nosso”)
as lágrimas que os meus olhos choraram
e deixo que a corrente me leve alguma da pouca sensatez.

Pois tudo o que me resta é este cheiro da terra molhada,
os legos difusos no chão do mundo que não ergui
e o acre sabor da derrota interna…
Tu és apenas tu.

Hoje peguei na caneta
e quis rabiscar sobre os velhos que vagueiam nos becos,
dos fantasmas que se assombram no respirar,
até mesmo da acne sem aviso na minha testa…
Quis contar o quão profundo é o verde das folhas,
o deprimente que é o cinzento do céu
as faces rosadas das crianças
e a delicadeza de uma gota de sangue…

O ódio que te tenho
assaltou-me esta noite
«por não conseguir ser-te indiferente»,
levando-me em jeito canhoto a escrever sobre o quanto te espero
guardando no bolso todo a minha malquerença
intentando apagar o quanto te amo
sendo tu,
a meu ver,
terrivelmente patético.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Posso não escutar o que dizes
Mas tomo a tua voz.
Posso não saber o que falas
Mas decoro os teus lábios.
Posso contudo saber
Se o que contas é verdade,
Apenas por teus olhos ler.
E posso ver o que pensas
Quando nossos narizes se tocam
E por um pequeno impulso mais
Nossas bocas se encostam
E nossas línguas se encontram.
Então partilhamos uma só palavra:
Adoro-te.
Sinto faltar-me um bocado,
Porque será?
Olho para meu lado,
E tu não estás lá.
Os sons cessam,
A luz esmorece,
As pálpebras cerram,
E tua imagem aparece
Consigo então ver-te,
Cada pormenor da tua face,
Posso e quero sentir-te,
Como se a teu lado te abraçasse.
(É nessa altura que recordo
E com minha ideia concordo:)
Sempre que nos encontramos
Sei que fazes parte de mim.
Agora juntos estamos,
Não me contes o fim.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Amizade

Queria estar contigo
Nesses momentos traiçoeiros,
Beber as lágrimas que reluzem
Na tua pálida face,
E assim fazer minha a tua dor.
És parte do sentido da minha vida,
Uma razão de eu ser.
Quero proteger esse teu sorriso
Que ilumina o meu.
Abro o livro, acendo a lareira, vejo o fogo consumir lentamente o pouco que resta de mim… Hoje é domingo: Não me vesti convenientemente, não penteei o cabelo, não atendi o telefone, não olhei pela janela, deixei as luzes todas acesas, não saí de casa…
Estou especialmente nostálgica e melancolicamente mergulhada neste romance. Fixo neste livro o romance violento e o final trágico que não vivi (do amor que não tive) e sim: Quando o amor não subsiste, não há nada que nos faça ficar, e a comiseração é demasiado cruel para não dizer adeus… «Cair em ti, cada vez mais longe da mísera ficção de mim». Sem ti sou só um corpo, e a minha alma tilinta neste desconforto misericordioso que é o ódio contrastando a afeição. Esta malevolência persiste, pontapeia-me o coração e esmaga-me a alma para que eu não tenha o dissabor de a encarar, trocista.
Hoje contei as ondas do nosso mar, olhei o céu que ficou nas minhas (talvez nossas) recordações… talvez tenham significado pouco da tua vida desenfreada e egoísta. Dás tão pouco de ti… Talvez tenhas caído na minha vida e estejas apenas de passagem, talvez esteja condenada a amar-te com todo o corpo durante muito tempo, talvez não…
Dei-me à sede do teu afecto incapacitado quase sem me questionar, porque todas as questões vieram depois, muito depois. «A melhor coisa que um dia aprenderás é a ser amado e retribuído», aprendi apenas metade dessa serenidade.
Devias ver-me hoje: com a pele luzidia, os olhos inchados do choro, os meus abomináveis óculos que desprezo em dias normais, o cabelo mal preso, desgrenhado, caído sobre a testa. Estou irreconhecível, sou só um corpo de alma tilintante. O livro caído no colo, a poção miraculosa do definhamento sobre a mesinha…
Hoje percebi – mais que nos outros dias – a falta que me fazes. Acordei na apatia dos amores consumidos pela falta que me faz a tua estupidez e indolência inatas, o teu sorriso fedelho que me fazia acordar, enfrentar o outro dia, todos e todos os dias…

«mister inaccessible, will this ever change? i'm still a picture in a frame...»

terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

1 de fevereiro, ás 20h38

Já passou algum tempo desde o primeiro
e hoje o teu beijo soube-me frio...
Talvez todo o calor tenha passado
porque o vento não ateou
a chama gélida...
Dou-te a mão
E percorro a mesma estrada todos os dias
Na insensatez desta coisa estranha e simples que nos une:
E sei-me tua.
O antagonismo do nosso amor
É toda uma tela que pinto em pormenor,
Todos os dias.
Pinto os teus lábios
E já os sei de cor
Como os teus cabelos que me perco a afagar
Em noites frias de sul...

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

«esta noite o amor partiu / sem sequer adeus dizer...»

Sou o pedaço de bruma
imóvel e quedo...
Hei de sair deste buraco que é a vivência que tenho guardado...

Jorrei pelos dedos este céu branco
tão imaculado nesta pureza crédula que é sentir-me triste...
Quis a tua mão,
- um pequeno apoio -
e vi-me tão só quando te recordei as costas...

És eterno.
Quis beber-te a ternura que largaste em mim
por seres tão hábil a fugir das palavras fraternas...
És um ritual.
Decifrei-te e não soube conter-te,
não soube dar-te tempo de perceberes o silêncio que sou.
Mostrei-me ao mundo num momento cru,
ingénuo,
leviano: arrependido...
e já passou tanto tempo...
Passou desde que as lágrimas secaram
e absorveram o extravazar de mim.

Foi tão oco este vazio
porque esta noite algum do meu amor partiu
e não sei se quero viver com o peso
de carregar a tua doce ausência...

sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

Demos as mãos quando sentimos queimar-nos
o tempo tão ténue
e o cheiro do mar nos nossos olhos...
Partimos tão breves
num choro tão pleno e terno
e dançamos uma valsa sem nome,
num palco sem chão,
onde o nada não existe...

Olhos nos olhos...

Olhos nos olhos
plantamos todas estas rosas brancas
e construímos para nós
um jardim de caminhos estreitos
alheados deste respirar tão ofegante,
tão sôfrego...

Olhos nos olhos
respirei tão fundo
quanto o sentimento me percorreu, sóbrio...,
e fui o tudo e o nada no mesmo instante...
Na leveza de um sorriso
esbocei ao mundo um vazio permanente,
agarrei a tua mão
e voltei, segura, para casa...

quarta-feira, 27 de dezembro de 2006

o amor é um lugar estranho

A Lua estava alta em seu esplendor
e as estrelas povoavam a escuridão
quando tu disseste que querias
fitar o céu a meu lado
Deixar que a Lua iluminasse
e as estrelas vigiassem
Mas preferi porventura
esperar e ver o Sol nascer,
enquanto o céu ia azulando
O dia foi passando
e o Sol mais poderoso
se foi tornando
Era certo, ele estava lá,
ele iluminava, ele alegrava
Agora está a anoitecer
Tenho o Sol e a Lua,
as nuvens avermelhadas
e tenho as estrelas
Não sei se veja o Sol
Não sei se fite a Lua
Tenho medo que um dia surja
em que o Sol se esconda
ou que certa noite chegue
em que a Lua não apareça
Então me arrependerei
por nenhum poder lembrar

quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

telepatia

Lembro de ti,
pensas em mim
Temo por ti,
preocupas-te comigo
Sinto-me só,
sentes-te sozinha
Esvaio lágrimas por ti,
choras por mim
Estendo-te a mão,
fazes-me sentir a tua
Abro os braços para ti,
sinto os teus em meu redor
Falo para ti,
fazes com que te ouça
Estamos juntos
Eu num lugar
Tu noutro sítio

sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

É tão fácil o último adeus
mesmo quando ainda estamos algemados aos planos passados…
O céu é a tela que nos envolve
as nuvens, borrões de tinta que nos estragam o quadro,
e a chuva, o pincel fino que se dilui na água
tão manchada de frustrações
e «nódoas negras sentimentais»…
E tudo o que desejei foi este sol que me aquece as mãos,
o coração
e todo o meu corpo…
Tão leve a tua mão pousada na minha face rosada pelo frio,
e tão bom o teu olhar de entendimento
sendo desnecessária qualquer palavra…

segunda-feira, 13 de novembro de 2006

Olhar


Por agora olho directamente nos teus olhos
com um olhar terno e sentido
enquanto tu olhas os meus olhos também
e te apercebes que o olhar que te olha
é de puro agradecimento
de alguém que te adora de mais.

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

Sabor




Saboreio cada momento
como se fosse um presente que a vida me dá quando passa por mim...
Aprendi com todos os erros que não é preciso muito para esboçar um sorriso ao mundo
(verdadeiro)
mesmo que a lágrima álgida esteja cá dentro esfuziada por sair...

Guardo em mim toda esta vivência
talvez fugaz, talvez ingénua,
mas sentir-me livre é um dom,
um dom que jamais irei perder
porque o tempo toma-se de nós muito depressa
e encontrei alguma paz em mim
esta noite...

quarta-feira, 1 de novembro de 2006

Para ti...

Um conforto tão desconfortável me assaltou hoje...
Este frio que trouxeste é só mais uma razão
ou será que é mesmo o fim?
Apontaste-me os medos
nessa tua frieza que me esforço por entender...
Uma tela de ódio
com uma pincelada do desejo que desde sempre guardo
de um dia ter um sorriso teu
verdadeiro e terno
e não um olhar álgido...
é mesmo o fim
– pensei eu. –
que mais há a fazer quando tudo o que há a procurar
é um ciclo vicioso sem fim à vista,
um capricho...
Que fazer quando tu
és tudo aquilo que quero
que preciso,
que respiro
(que me perco a respirar)
és o tudo
mas no fundo, não és absolutamente nada.
És só alguém que eu caí na descrença de amar,
talvez amar de mais,
talvez perder...

Tu

Pensei ser tudo aquilo que sempre quiseste ter,
não quis ser um olhar fugaz
ou uma flor que depois de seca
perderia toda a sua vivacidade
e acabaria n’algo chamado abismo...
Quis o teu sorriso,
quis acreditar em ti
e em tudo o que se passava à nossa volta,
o porquê de agora tudo estar tão vago,
tudo tão cinzento e escuro:
tão melancólico...
De que servem as doces recordações
agora que nos deparamos com um presente estuporado,
cruel,
vil...
O teu passivo silêncio incomoda-me,
enerva-me,
leva-me a dizer coisas que não sinto,
a irar...
Até que ponto o teu amor existe?
Até que ponto tudo foi verdadeiro?
E sim, é para ti que escrevo tais palavras,
Tu, que me fazes chorar e me magoas.
Tu, que sem me tocar me arrepias,
me humilhas, me afugentas...
Dei-te tanto de mim
sem esperar nada de volta.
Seria suficiente um olhar,
um gesto
(qualquer coisa)
para afastar do meu olhar este breu,
esta tristeza
que manchaste nos meus olhos tristes...

Estás sozinho, sem ninguém
Estás cansado, sem forças
Tens frio, congelas
Sentes dor, falta de amor
Lembras a amizade, deixou saudade
Olhas o presente, dá-te raiva
Segues a lua, estás no breu
Eis que te deitas, olhas o céu
Com quem falas? Não há vivalma
Falas com o papel, nunca te deixou
Nele confias, não só as alegrias
Mostras-lhe a dor, o amor
A amizade e a saudade
A raiva do presente
Passas-lhe o breu da alma
Que já nem a lua tem de tão escura que é
Ele não se magoa, ele não sente
É apenas papel, também não te mente
Não te magoa, não te ama
Não é teu amigo, não te sente falta
Não se chateia, não diz nada
Só esta ali, imóvel, quieto
Mas eis que por vezes
Depois de o riscares com o breu da alma
Ele a reflecte com claridade
E da apatia da sua brancura violada
Se levanta a resposta que procuravas

terça-feira, 31 de outubro de 2006

Estou sozinho
Envolto em silêncio
Cheio de escuridão
Não tenho medo
Mas não digo que não
Estou insensível
Com um conflito de sentimentos
Tudo se anula
Amor e ódio
Tristeza e alegria
Apatia e euforia
Não me movo
Não vejo razão
Ninguém me ajuda
Não me dão a mão
Tudo ruiu
Nada mais resta
Vou ficar aqui
Até chegar a besta
Ela levar-me-á
Deste mundo para o seguinte
Neste aprendi a lição
Vou usá-la no que virá
Nesse estarei acompanhado
Rodeado de barulho
Inundado em claridade
Pois neste já o estive
Mas também já o perdi
Para aprender a lição
Com o erro que cometi

terça-feira, 17 de outubro de 2006

11 de Outubro






Esta noite sonhei que não havia céu
e que as nuvens cinzentas eram só um incomodo imaginário
criadas por uma entidade divina a que chamamos Deus...
E tudo o que quis foi esta paz
e todo o sabor que me traz esta vivência
juntamente com a culpa de não ter sonhado antes...
Um amontoado de emoções
maior do que a lua
e menor que uma ilusão.
Será que te lembras
do ultimo abraço que demos (?)
mesmo quando nada parecia/era mau...
Dá-me a mão
e vem ver como é o outro lado.
Vem ver o arco-íris formar-se
ouvir a chuva
e senti-la a molhar-te o corpo
(mesmo sabendo da inevitável constipação)
saboreia este momento
pois talvez não haja muitos mais,
porque hoje é um dia horrível chamado “quarta-feira”
mas contrariei o mau hábito,
peguei na caneta
e escrevi algo doce para ti...

sexta-feira, 29 de setembro de 2006

Sentada ao relento relembro
e contemplo a lua que me fez partir...
Lembro o grito que me sufoca no tempo que é já nulo, banal, solitário...
Vejo as pessoas passarem
e o tempo também.
Sei o que me faz ficar
mas nem por isso as lagrimas aparecem...
O olhar urgente de quem vagueia
acompanha uma vivencia fugaz
num orpo que não sinto como meu...
Este agir sem reflexão vai acontecendo todos os dias,
vai passando com as horas
o tanto que dizes que um dia me amarias.
E sinto-te tão distante de mim
mas tão perto de tudo
(tão longe do nada)
e tão ausente do mundo.

quinta-feira, 21 de setembro de 2006

Hoje eu quis gritar
para que o mundo soubesse o quão perdida me sinto...
Quis o teu ombro
para chorar
e dizer-te o quanto te amo...
O passado mexeu comigo, mesmo sem querer...
magoou lá no fundo
e ele sabe disso...
Já de nada servem palavras de conforto, agora.
O mal foi feito
e eu já não preciso
nem quero o amor
vil e cruel,
vingativo e cru
branco e vazio...
Nu.

Quero abandonar este corpo,
vaguear enquanto alma
descobrir o que me rodeia
e tentar (pelo menos)
ser mais feliz...

quinta-feira, 7 de setembro de 2006


 

(Silêncio...)

Silêncio,
tão imenso
que sufoca
e mata...
Me leva de triste e queda,
de leve e magoada,
tão frágil...
Recosta-me para depois me magoar
e deixar-me só.
Acompanha-me com a folha branca e caneta
encontradas em qualquer canto,
escritos em qualquer café...
Traz a minha solidão consigo,
a nostalgia da folha branca...
...volto ao sentimento que não cessa,
ao meu papel
e a um café ou outro lugar
para voltar a escrever...

Acordo na madrugada
largando ódios pelo chão,
a luz que entra pela janela é só uma razão para não querer ficar
e o olhar vazio que trago
é das noites de solidão,
é o reflexo da mente que se esvai
da alma caída...
O outono há muito que partiu silencioso
numa paisagem terna e fugaz,
mergulhada nesses ódios que ficaram.
Quando o sol nasce,
A vida torna a razão simples e escassa...
Há dias que não passam...

terça-feira, 18 de julho de 2006

Hoje o fundo era negro
E se algum dia precisei do silêncio
Não foi num dia como o de hoje
Em que o tempo era branco como uma folha de papel...
Sorrio todos os dias
Quando a luz (ou algo mais negro) não me ofusca,
Ou quando o pó de todos os corpos apenas me separa do chão...
Dizes que apenas tenho medo de ficar só
Sorrio-te algo leve e aceno com a cabeça,
Mas sei que é por isso que o fundo é negro,
o breu é difícil de suportar...

Marco mais um dia como o de hoje,
as aguarelas gastas e esbatidas...
só me resta o carvão para dar “cor”.
O breu sufoca-me
Porque hoje é o dia em que me sinto só
e apenas só...

12/05/2006

domingo, 9 de julho de 2006

recordações...

Escrevi este texto no melhor Verão da minha vida, o Verão de 2004... O Fett andava as voltas com o ghost script e eu aproveitava as folhas dos códigos para escrever qualquer coisa (devaneios, devaneios...) por trás... muitas recordações... É triste ver que éramos um grupo tão grande e neste momento só mantemos duas ou três ligações... Acho que só mesmo nós os dois é que ficamos verdadeiramente amigos no meio disto tudo, é o ciclo das coisas, perfeitamente compreensivel.. =/
Fett: a nossa sorte é que o Sopas nunca soube que lhe tiramos as escadas da piscina para ele se afogar! XD (nos sims, tá claro)... pá, fixe mesmo, fui eu com uma caneca de chá em cima da barriga a cantar a shop suey aos gritos na tua sala... bah... que stress... tenho saudades de tudo isso e só mesmo para chatear, decidi postar um texto que em termos de conteúdo está o verdadeira degredo (os autores devem ser sinceros consigo próprios... =P) mas... o sentimento 'tá lá... =D




Já nada é certo,
tudo é deserto,
é tão incerto poder saber que não estás por perto...
Regras são tudo aquilo que desprezo
por entre o pensamento,
e penso
que o céu será e sempre foi cinzento,
como aqueles gelado chão que agora pisamos...

carolina figueiras, 13.08.2004

terça-feira, 27 de junho de 2006


sábado, 3 de Junho...

Já não consigo escrever,
as palavras não flúem
e refugio-me nas lágrimas para expressar a dor…
As folhas brancas deixaram de ser o meu motivo,
a razão pela qual continuo e não desisto…
Pergunto-me o que me faz continuar
e penso partir para a frieza
para conseguir encarar a minha solidão
(pelo menos melhor do que com a demência de agora) …
“O sol brilha lá fora,
os pássaros cantam”
e as folhas das árvores ecoam o assobiar do vento…
Toda esta beleza é finita, talvez fugaz,
faz-nos acordar de outro modo
mas não nos impede de pensar em desaparecer
não nos impede de nos fartarmos de nós,
de não acreditarmos nas pessoas,
de não saber o que é poder confiar,
o que é receber
mesmo sem dar,
o que é amar realmente
o beijo que a madrugada nos dá
todos os dias ao acordar
e a respirar
(o silencio,
o ruído)
da solidão
que nos deixa fracos e perdidos
e nos torna mendigos de nós próprios…

…Deparas-te com o sorriso falso de todos
e encontras em ninguém a confiança das tuas palavras…

sexta-feira, 23 de junho de 2006

«now we trust, then we try ...»

Vejo agora o tal e dispensado ódio
raiado na insensatez da minha solidão…
O sol mostra-se agora um pouco mais
os olhares e os sorrisos trocam-se,
subtis,
sem demonstrar demasiado o afecto partilhado por ambos.
Somos tão cúmplices um do outro
como a lua o é da madrugada…
estamos tão perto e tão longe
um do outro
e do nada
que te olho com um sorriso terno
e ganho a certeza de te querer ver outra vez…

segunda-feira, 19 de junho de 2006

segunda-feira, 12 de junho de 2006

Ficamos neste silêncio tão nosso
e de repente o aperto que sufoca a dor
nos cobre a ambos
e nos deixa tão sós,
leva um pouco de nós…

quinta-feira, 25 de maio de 2006

17 de Maio

Sem querer
fiquei à espera das palavras
dei-te a inconsciência das minhas,
para quebrar um pouco o silêncio.
Deixei a janela aberta para que o tempo não me fugisse
e levasse
a cor,
o sol,
o mar...
O gélido chão que trago debaixo dos pés
e o silêncio que não é eterno...
Só me resta tirar o caderno do bolso
e continuar a escrever...
Já tentei por uns tempos
tentar desaparecer
e desistir daquilo que sou,
desistir de mim...
Refugiar-me no sonho que me incentivou a partir,
dormir ao relento
e olhar as estrelas antes do amanhecer.
Levar o caminho num sorriso rasgado
o qual trago no bolso
para que nunca me vejam chorar...

quinta-feira, 11 de maio de 2006

O violino e a lágrima

Largas o tempo
e tentas voltar atrás...
Vês os pedaços de ti que lá deixaste
e os remorsos que assaltam,
que se cravam na pele
como aguçadas notas de uma valsa de violinos...

Solidão

Continuas à espera
da mão que te agarre
e te leve de volta
a uma realidade que tu próprio criaste...
Sentes-te só
porque todos se foram embora
e aqueles que ficaram não foi por ti...

quinta-feira, 6 de abril de 2006

quarta-feira, 5 de abril de 2006

Passado presente

Quando tento falar de ti
fundes-te com os medos passados…
quando te comparo à porta que fechei
e que não quero voltar a abrir
és como as memórias que tento conter.
Rompes pelos meus pensamentos
como o vento que sopra as folhas caídas pelo Outono…

terça-feira, 7 de março de 2006

senitmento que não cessa: solidão...

Quando a ira suplanta os nossos gestossomos apenas almas no universo de palavras que não vieram do fundo.
Loucura nos leva para longe,
surge a vontade que grita,
a vingança é cada vez mais um objectivo,
uma rotina no fugaz passar dos dias...
Há muito pouco que nos prenda aqui,
o nosso caminho é hoje escolhido em função da aparência
e a saudade é o sentimento exaltado ao pensar o quão longe estamos de nós.
O silêncio acompanha a cadência,
o choro é apenas o escape.
Lágrimas... uma depois da outra, rio que não seca.
Sentimento que não cessa: solidão....

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2006

Segredos

O que pensas,
o que dizes
e o que achas nem sempre se assemelham...
Confiança é a palavra gasta num universo de frases soltas,
onde os segredos não se mantêm no sigilo deles mesmos...

Espalhados aos sabor das horas (os segredos)
espalhados pela voz daqueles que desafiaram os poetas de olhar mortiço e cinzento.
O frio fez estes velhos poetas levarem com eles as palavras,
todas aquelas que ficaram por dizer e que se reconfortaram na nossa garganta.

Mortiça a culpa que os levou...
Razão oculta que os fez voltar...
Já mal me lembro do motivo pelo qual ainda escrevo,
aqueça a alma junto à lareira,
deixo arder mais um tronco
enquanto o Outono se funde nas cinzas...

segunda-feira, 30 de janeiro de 2006

Aqueço o coração junto à lareira
onde as palavras se tornam frágeis e dispensáveis...
No caderno velho de folhas sujas escrevo... a mágoa que se deixa ficar ténue à minha partida.
Desvanecido o tempo que passou em nós.
que é desse tempo? dos olhares que foram ditos, das mãos que se abraçaram?...

Atormentava-me o sentido que ele dava ás palavras,
a frieza dos seus gestos
e do ego de si mesmo.
Ele nunca dizia porquê,
nunca explicava porque se deixava cair no seu breu.
acho que foi ele mesmo que se fez assim...
Talvez o tempo lhe tenha moldado a alma e o espírito.
A esse homem de rosto vago e de espírito leve
e demasiado fácil de amar...

quinta-feira, 26 de janeiro de 2006

...

Diz-me tudo o que esse mar não trouxe,
diz-me as mentiras que ficaram por dizer,
os ventos que se cruzaram sem se fundirem em nós,
os gritos que nem em nós se conseguiram conter.
Revolta-mos o modo como agora a vida nos toca na sua intempestuosa passagem.
Espalhada está a tinta na folha que era branca,
manchada como o pó,
a folha branca de letras soltas movidas pelo silêncio
num vazio que não conheço
num passado que agora é só.
Visita-nos o desejo da dor
quando deixamos a sós a nossa solidão.
É inigual o estado de paz,
a cor ténue de um mundo em volta
e o branco dos pensamentos.
São cada vez mais as folhas que gastas quando escreves
para não teres de encarar o cinzento dos teus dias.
Ages como um louco e desprezas-te a ti mesmo
para perceberes que o silêncio não é eterno...

Ténue é a tua dor agora.
Já nem a ti te encontras quando te apercebes que estás perdido.
Luz na tua face um sentimento que dizes ser de culpa
quando persegues o vento para onde a luz não vai.
Afogas-te no breu
e no silêncio das lágrimas de ti mesmo...

Excerto

(...) Fui eu mesma e não voltei...
Dei-te a mão mas não parti,
perdi tudo e não chorei...

Domingo rotineiro numa vida fugaz...

Quando voltar espero não te encontrar aqui
outra vez...
nem ter de te ceder o meu ódio por mais um momento que seja.
A brisa que se move vai levando o brilho que os olhares guardavam...
Leva as palavras e o sofrimento guardado nelas
nas tardes em que passava horas a escrever
e manchava o papel branco de pensamentos sem sentido...
Mais um domingo rotineiro,
uma chuva certeira numa vida fugaz,
um sorriso maquinal para encarar o tempo que não passou...
A lareira que nos aquece o coração e a alma...
e a tua mão na minha num domingo,
ou noutro dia qualquer...

sexta-feira, 21 de outubro de 2005

Páginas Rasgadas (páginas de outono)

Piso as folhas caídas que algum poeta deixou
por aí,
(perdidas) pelo chão…
Quem sabe se não foi o vento que as trouxe (?)
Para me recordar a cor dourada do Outono
Quando nos entra pela janela
Com aquela nostalgia de um café de domingo…

segunda-feira, 17 de outubro de 2005

Retrato

As sombras movem-se numa atitude intempestiva,
Cavalgam nas paredes desertas do meu quarto
Como cavalos que foram libertos pelo vento.
Resguardo a minha solidão num retrato de mim mesma
Mas já não me sinto só por estar só.
É um estado de silêncio e alma
É a chuva a cair lá fora
Enquanto aqueço as mãos junto à lareira…
Atas de novo os laços que antes deixaste romper
E percebes o valor que o mundo à volta tem.

Passeio fugaz

Vagueamos pelos nossos caminhos
Perdidos no nosso silêncio
Onde a lua ilumina o espaço em volta
E nos diz que já não estamos sós.

terça-feira, 4 de outubro de 2005

chegou o outono.. (não chega o fim)

O vento passa
e vai levando todas as memórias que ainda não partiram,
como folhas caídas no chão…
Aos poucos o meu silêncio tende a desaparecer no meio do vão,
o meu tão desejado silêncio...

Não sei o que este lugar me diz,
Não sei onde estão as pessoas,
Não sei o que me prende aqui…
A necessidade de cá estar é cada vez menor,
todos partem
e outros nunca chegaram a ficar…

Abre os teus olhos e olha em volta:
podes ter o mundo e podes encontrar algo que te leve daqui,
encontrar o lugar onde realmente pertences.
não adianta mentires,
não olhes nem sintas…
Já de nada vale chamar por todos aqueles a quem pedimos para ficar.

A solidão por dentro converte-se em algo que não entendo,
uma obsessão,
um sofrimento
ou uma simples perda…
Rasgo ideias como folhas
E escrevo a minha história de vida caoticamente.
O fim não chegou a começar:
o fim não chega nunca...

palavras...

Arrependi-me da dor que deixei passar
e reflecti o meu ódio num beijo…
Tão escassa se torna a vida quando já não acreditamos,
o surreal está presente…
trocamos as palavras e percebemos que já nem desta forma têm algum sentido.
Deixo que o meu sono me leve e adormeço na busca do conforto que não tenho.
Sinto-me perdida outra vez,
Só outra vez,
Sinto-me eu outra vez…

segunda-feira, 12 de setembro de 2005

Eu

Arrependi-me da dor que deixei passar
e reflecti o meu ódio num beijo…
Tão escassa se torna a vida quando já n acreditamos,
o surreal está presente…
Trocamos palavras ao acaso
e percebemos que não há forma de elas terem sentido.
Deixo que o sono me leve e adormeço na busca do conforto que não tenho.
Sinto-me perdida outra vez,
só outra vez,
sinto-me perdida outra vez…

quarta-feira, 7 de setembro de 2005

Hoje é quarta-feira, dia de ilusão...

Hoje é quarta-feira,
dia de ilusão…
Observo o tempo que nos levou,
olho o sol
agora com pouca determinação.
Todos temos um segredo que não queremos manter…
Estabelecemos contactos e deixamo-nos ficar
no conforto das horas
e da melodia que a chuva vai cantando em ostinato.
Não sei como tanto tempo passou tão depressa
e sinto-me só quando percebo que já todos partiram…
só falto eu…
Deixo prevalecer inerte o meu lado secreto,
e deixo-me cair no chão quando vejo que o sol já se pôs.
Estou outra vez só.

crescer...

O tempo passou
Mas guardo dele uma recordação ténue…
Avalio cada passo que dei
E vejo o quanto cresci em relação a mim mesma.
Não adianta devolveres as tuas palavras agora,
Não adianta tentares deixar mais marcas,
Nada me abala da paz de espírito em que me encontro…
Narcisista? Penso que não.

Tenta passar pela minha vida com alguma sensatez,
Pelo menos agora…
Porque crescer nem sempre é bom,
Nem sempre é mau reviver o passado
E quem me dera ficar muito tempo na minha pequenez
Para perceber que tudo no mundo é uma capa:
(tu és uma capa) … é com tristeza que o digo.
O genuíno está a desaparecer
E as pessoas mascaram-se de videntes…
Ninguém sabe o que vai cá dentro,
Só eu… eu.

Este texto é dedicado ao simpático leitor anónimo que, gentilmente, teceu o simpático comentário: «cresce e aparece» … graças a ele encontrei a inspiração…